Page 8 - Quando crescer quero ser hipopótamo
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II – ESTRATÉGIAS PARA O TRABALHO COM A
OBRA: TÃO PESADO QUANTO UM AVÔ
A literatura é uma arte feita por palavras que nos conduzem a refletir sobre a socie-
dade e sobre nós mesmos, a percorrer universos imaginados e inexistentes, a conhecer
mundos desconhecidos e inexplorados – se é que existe algo mais desconhecido do
que o coração e a mente do próprio ser humano – e a desenvolver a capacidade de
analisar criticamente o mundo. A literatura nos permite, no próprio ato de experienciar
vidas e histórias alheias, desenvolver nossa empatia como indivíduos e compreender
o outro sem preconceitos. Além disso, ela é também uma atividade que dá prazer: é
lúdica e enriquecedora. Por tudo isso, de todas as brilhantes afirmações que o crítico
literário Antonio Candido (2011) fez em sua carreira prestigiosa, nenhuma é tão pode-
rosa e incontestável quanto a que diz que literatura é um direito tão importante que se
iguala às necessidades mais básicas do ser humano. Assim, negar o acesso a ela é negar
a oportunidade de enriquecimento cognitivo, ético e moral às crianças.
Utilizar livros literários na sala de aula, tanto na Educação Infantil quanto nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, possibilita ao professor uma série de atividades que
estimulam a criatividade e incentivam a leitura e a escrita, cada vez com maior auto-
nomia, além de favorecer o imaginário dos alunos, desenvolvendo aspectos cogniti-
vos e emocionais das crianças. Além de ser um meio poderoso para a alfabetização,
a leitura enriquece o vocabulário e a capacidade de expressão oral e escrita dos
alunos; desperta a sensibilidade estética e também cria o gosto pelos livros, algo
que pode percorrer a vida toda, tornando-se um hábito. A leitura compartilhada em
sala de aula cria condições para que as estratégias de atribuição de sentido sejam
mobilizadas por diferentes leitores, estabelecendo diálogos entre essas estratégias
que ampliam o desenvolvimento social, emocional e cultural.
Se ler é uma experiência única e enriquecedora, que abre a perspectiva do leitor,
um livro como Quando crescer quero ser hipopótamo pode trazer resultados ainda
mais sensíveis na formação desses jovens leitores por conta da carga emocional da
narrativa e da linguagem fluida e próxima, já que o narrador é o próprio personagem
principal: o menino Paulinho. É um livro que valoriza a infância e a criança ao mostrar
como um indivíduo dessa faixa etária tem problemas reais, relevantes e que merecem
atenção, pois esse momento importante de sua formação pode ter consequências
no futuro. Além disso, pela história do pai de Paulinho, podemos compreender que
a forma como se trata uma criança influencia no futuro e na personalidade dela, bem
como pode tirar o prazer do convívio familiar. Como observa Micheletti (1990), a lite-
ratura não tem obrigação com o conhecimento, mas o promove ao ampliar o acesso
a novas experiências que poderão auxiliar o leitor a refletir.
Para essa fase do ensino – 4o e 5o anos do Ensino Fundamental –, a BNCC prevê
que a leitura deve proporcionar aos alunos a autonomia na leitura, ou seja, que eles
já estejam plenamente alfabetizados e sejam capazes de ler silenciosa e oralmente.
Prevê também que os estudantes sejam capazes de identificar a ideia central do
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