Page 5 - Quando crescer quero ser hipopótamo
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I – CARTA AO PROFESSOR: TÃO LEVE
QUANTO UM HIPOPÓTAMO
Caro professor,
Enquanto adultos, muitas vezes nos esquecemos de um ponto importante na
vida de qualquer indivíduo: crescer não é fácil! Compreender quem somos, o que
queremos na vida, qual é o nosso papel enquanto indivíduos e cidadãos e aprender
a conviver com o outro são questões que, aos poucos, vão nos tirando do delicioso
encanto da infância – aquele mundo mágico em que nos sentimos protegidos para
alçarmos voos emocionais e imaginativos – e nos arremessam para um turbilhão de
emoções que nem sempre estamos prontos para vivenciar. A leitura pode ajudar as
crianças nesse difícil processo que é crescer: vivenciando outras histórias, o leitor
pode se identificar com as experiências de seres ficcionais e refletir sobre a sua pró-
pria experiência – além de se divertir!
Encontramos tudo isso no livro de Alan Oliveira, Quando crescer quero ser hipo-
pótamo. Paulinho é o narrador e personagem principal dessa história. O garoto vê,
de repente, as rachaduras do passado de seu pai com a chegada do avô, o Capitão
Ernesto, um militar aposentado que, com uma educação severa, nunca teve uma
boa relação com seu filho, um vocalista de uma banda de rock. A chegada desse avô
vai trazer à tona os problemas do passado e a dificuldade de Paulinho em aceitar
esse ser que lhe parece distante do seu seio familiar: tão diferente de seu pai no tra-
to, mas, ao mesmo tempo, um pouco parecido com ele – física e emocionalmente.
A não compreensão dos fatos e a dificuldade em lidar com suas próprias emoções
farão com que Paulinho aja em casa e na escola de modo diferente do habitual,
fechando-se e descontando suas frustrações no pobre Alfredo, um colega cujo ape-
lido “Fedegoso Fedorento” já indica o bullying presente na escola.
A literatura é um recurso essencial para o desenvolvimento de habilidades inte-
lectivas e socioemocionais das crianças e dos adolescentes, possibilitando a forma-
ção de indivíduos mais empáticos em relação às diferenças e que refletem melhor
tanto a partir dos momentos desafiadores em sua própria vida quanto de questões
que envolvem a comunidade. Por outro lado, a leitura traz para o ambiente da sala
de aula situações que as crianças viveram ou vivem: isso é bastante influente em seu
processo de escolarização, pois permite que a criança interaja com as suas próprias
experiências na decodificação do texto e na atribuição do sentido. Assim, segundo
Abramovich (1989, p. 17), a leitura implica a compreensão e a formação do sujeito e
o ato de ler influencia a formação do pensamento, das ideias, das concepções, dos
desejos e da visão da realidade; a leitura permite, ademais, o contato com diferentes
visões de mundo, já que, de acordo com a autora, “é através duma história que se
podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra
ética, outra ótica”. Ou, nas palavras de Kramer (2011, p. 40), a leitura:
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